Soneto do Epitáfio
Lá quando em mim perder a humanidade
Mais um daqueles, que não fazem falta,
Verbi-gratia — o teólogo, o peralta,
Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade:
Não quero funeral comunidade,
Que engrole "sub-venites" em voz alta;
Pingados gatarrões, gente de malta,
Eu também vos dispenso a caridade:
Mas quando ferrugenta enxada idosa
Sepulcro me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me este epitáfio mão piedosa:
"Aqui dorme Bocage, o putanheiro;
Passou vida folgada, e milagrosa;
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro".
Manuel Maria Barbosa du Bocage
2 comentários:
mestre da academia de letras em lisboa na sua época, até queria ver se se juntassem todos os génios portugueses de todos os tempos num espaço à parte do mundo e num tempo intemporal com transmissão em directo e exclusiva da RTP 2 se havia alma que batesse Bocage! Este homem devia conhecer todas as palavras que há no dicionário português. Como é que surgem pessoas assim?
Um senhor e sem papas na língua
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